quarta-feira, 27 de agosto de 2014

SENHORAS E SENHORES, VAI COMEÇAR O ESPETÁCULO!

                                                                                                    (Foto: Divulgação)

Luzes se apagam, pacote de pipoca na mão, murmurinho na plateia. Tudo pronto para começar mais um espetáculo do circo peruano La Tarumba. Sob a lona do circo, despontam acrobatas, malabaristas, trapezistas, dançarinos e cavalos em uma fusão de teatro, circo e música. 

O circo La Tarumba é ótima opção de lazer para quem mora em Lima ou está de passeio pela cidade. Todo ano, o circo abre sua temporada em julho e encerra na primeira semana de setembro. Em 2014, a companhia completa 30 anos e apresenta o espetáculo Gala, em homenagem aos diferentes povos que formaram o Peru.

Gala foi inspirado no encontro entre mar e deserto da costa peruana e na chegada de espanhóis e africanos ao Peru. “Foi um momento doloroso em nossa história, mas que agora devemos festejar, porque nós somos filhos desta mescla e de outras mais”, disse o diretor artístico do circo, Fernando Zevallos, em entrevista a uma tevê peruana.

Cavalos e música - Cavalos são os únicos animais da Tarumba, em tributo à arte equestre, bastante difundida no Peru. São 21 cavalos que se revezam nas diferentes sessões, em cenas com bailarinos, acrobatas e músicos. “Com o revezamento, os animais não se aborrecem ou se cansam durante a apresentação, e podemos fazer substituições, em caso de alguma eventualidade”, afirmou Zevallos.

Um ponto que me chamou a atenção no espetáculo foi a música, dirigida por Amador “Chebo” Ballumbrosio, da conhecida família de músicos e sapateadores de El Carmen (já falei no blog sobre música peruana; clique aqui para ver o texto). Ritmos peruanos, como marinera e tondero, o som dos cajóns, o gingado dos bailarinos enchem o circo de alegria. É hora em que dá vontade de dançar e acompanhar os artistas no picadeiro.  

Projeto social – A Tarumba surgiu em 1984 como companhia de teatro de rua, com apresentação em bairros da periferia de Lima. O grupo era formado por artistas jovens, dirigidos por Fernando Zevallos. Nos primeiros anos, a trupe percorria Lima em um carro, com apenas três palhaços e poucos objetos de cena. O grupo também está envolvido em projetos sociais, para formação de jovens de bairros pobres de Lima.

Nos anos 80 e 90, a companhia montou espetáculos que criticaram o governo peruano. Um deles foi o espetáculo Cállate Domitila, em 1988, sobre eleições peruanas, que quase foi censurado pelo governo da época, segundo revista Somos (junho/14).

A temporada do circo termina dia 7 de setembro. Espetáculos de quarta a domingo, no Centro Comercial Plaza Lima Sur, no bairro Chorrillos. Venda de ingressos em Teleticket de Wong e Metro.







terça-feira, 26 de agosto de 2014

O BLOG NO PROGRAMA FALA BRASIL

No dia 19 de agosto, estive na Bossa Nova Peru Rádio, do Centro Cultural Brasil-Peru, para falar sobre o blog Viver em Lima. Para ouvir o programa Fala Brasil clique no link abaixo (a entrevista começa na marcação de tempo 1:05):

Programa Fala Brasil



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

UM POUCO DE SOL, MAR E TERREMOTO

Voo de pelicanos em final de tarde em Vichayito

Uma hora e vinte de avião de Lima a Piura, mais duas horas e meia de carro e chegamos à praia Vichayito, no norte do Peru. Cinco dias de sol e mar para fugir do úmido e cinzento inverno limenho. Pero no mucho. Primeiro dia, logo na chegada, vento frio, céu nublado, mar escuro e bravo. Culpa do tremor de terra, nos disseram alguns moradores, referindo-se ao sismo de 5,8 na escala Richter, ocorrido em Piura no dia anterior, domingo, 3 de agosto, sem vítimas e com poucos danos materiais.

Houve alerta de tsunami por aqui?, pergunto à recepcionista do hotel, na chegada. Não, não, responde-me ela com segurança. Na realidade, perguntei para confirmar. No dia anterior à nossa viagem, havia escutado na rádio notícia em que autoridades da Marinha de Guerra do Peru descartavam risco de tsunami na costa peruana por causa do tremor.

Interessante a crença popular de que mudanças no tempo são consequência ou sinalizam terremoto. "O tempo ficou nublado depois do sismo. Sempre faz sol em Vichayito, mesmo no inverno", afirmou um morador de Piura. O contrário também vale. “Me dá medo dias de vento e céu muito azul, durante o verão. Pode ser sinal de tremor de terra”, disse-me uma peruana logo que mudei para Lima. O Peru está no Cinturão de Fogo do Pacífico, região de intensa atividade sísmica e vulcânica. Tremores de terra com intensidade menor que 6 graus na escala Richter são frequentes por aqui.

Animais na praia - Na primeira caminhada pela praia vimos três lobos-marinhos mortos em trecho de um quilômetro e meio. E também uma tartaruga, um leão-marinho e várias aves mortas. “É, parece que o terremoto mexeu com as coisas por aqui. Pode ser que os bichos tenham ficado desnorteados, perderam o rumo, a noção de tempo e espaço”, observou meu marido, fazendo-me lembrar do livro Cem Anos de Solidão. Ou pode ter sido apenas morte natural ou por doença. Vai saber...

Sismos à parte, certo é que o tempo foi melhorando e a praia, ficando cada dia mais bonita. Sol e mar em vários tons de verde e azul. A água do Pacífico, fria. Nem mesmo as crianças se animaram muito a entrar. Também se podia avistar da praia, com um pouco de sorte, uma ou outra baleia-corcunda (jubarte) saltando no mar.

É a segunda vez que vamos, em agosto, ao Norte do Peru, em busca de um calorzinho e de paisagens diferentes. Em 2012, estivemos em Zorritos, em Tumbes, perto da divisa com o Equador.

Vichayito fica na região de Máncora, conhecida pelas praias bonitas e com boas ondas para surfe, principalmente entre novembro e fevereiro. Vichayito é um lugar bem tranquilo, ideal para relaxar em um dos charmosos bangalôs de bambu e madeira com vista para o mar.



Bangalô com vista para o mar 


Vista da varanda do bangalô


Detalhe da praia de Vichayito


Sombreiros cobertos com palha de coqueiro


Vendedor de chapéus

Passeio a cavalo é comum em praias peruanas.

sábado, 9 de agosto de 2014

UM CAMINHO DE CONTRASTE ATÉ LUNAHUANÁ


Menos de 200 quilômetros separam Lima de Lunahuaná. Curta distância que leva a um Peru cheio de contraste, social e geográfico. Riqueza e pobreza lado a lado. Deserto e vale fértil.

O caminho começa pela rodovia Panamericana Sur. Estrada boa, bem pavimentada e sinalizada, que conduz às praias ao sul de Lima. Em vários trechos, a rodovia costeia o oceano Pacífico, de onde se avistam os muros de condomínios fechados, de alto padrão. No lado oposto da via, casinhas simples dos moradores locais e infraestrutura precária.

Alguns quilômetros depois do badalado e fechado balneário Asia, toma-se a direção de San Vicente de Cañete. É Sexta-feira Santa. Cañete está movimentada pela procissão do Cristo crucificado, pela feira livre e pelos carros que se dirigem à serra e passam dentro da cidade.

Placas indicam um desvio para Lunahuaná, passando por uma localidade chamada Nuevo Imperial. Lugar árido, pouco povoado, parecido a cenário de faroeste. As casinhas são muito pobres, muitas delas de palha e bambu. Serão cerca de 40 quilômetros em estrada de chão, com alguns trechos asfaltados, até nosso destino.


Trajeto na localidade Nueva Imperial

Paisagem desértica antes de chegar ao vale

Urbanos que são, meus filhos perguntam por que escolhemos um lugar assim para passear. Explico que as cidades são diferentes, desiguais. Logo chegaremos a um lugar bonito, digo.

E chegamos. Poucos quilômetros depois, a cordilheira desértica se abre em um vale verde, com plantações de milho, mandioca, maçã, melão, tangerina e uva – utilizada, principalmente, na fabricação de pisco (destilado) e vinhos doces. A estrada acompanha o curso do rio Cañete, cristalino e pedregoso. A região de Cañete é importante produtora de frutas e abastece vários mercados de Lima.

Vale do rio Cañete

Adultos nadam e crianças brincam no rio; outros fazem canoagem. A propósito, canoagem é um dos atrativos de Lunahuaná, além de passeios a cavalo, de bicicleta e caiaque. Há também as ruínas de Incahuasi (de 1428) e vinícolas, da chamada Rota do Pisco.

Praça - O movimento na praça central de Lunahuaná é grande no feriado de Sexta-feira Santa. Ao redor da igreja matriz, uma espécie de quermesse, com dezenas de barraquinhas de comida, pipoca, doces, artesanato. Em um galpão, com bares pequenos, são preparados vários tipos de coquetel à base de pisco.

Sábado de Aleluia, seguimos em direção a Lima. Antes, paramos à beira do rio Cañete para molhar os pés na água fria e comprar frutas em bancas de produtores locais. Aparece por ali a cantora e compositora peruana Susana Baca. Susana fotografa o rio; alguns fãs a cercam. Fazem uma selfie com a conhecida e simpática artista. Uma cena bem peruana para terminar o passeio.

Así es.


Praça de Lunahuaná

Rio Cañete
Canoagem é opção de lazer 

Carroça: cena comum na estrada pouco movimentada