Cajamarca


Cuarto del Rescate, onde o inca Atahualpa esteve preso no século XVI


O guia turístico que nos acompanha no passeio a Cajamarca aponta para a Praça de Armas da cidade e faz uma afirmação categórica.“Aqui ocorreu uma grande tragédia: a execução do inca Atahualpa, em 1533, depois de pagar alto resgate em ouro e prata aos invasores espanhóis”. Contam crônicas da época que Atahualpa, mantido prisioneiro por Francisco Pizarro durante meses, ofereceu em troca de sua liberdade encher o quarto onde estava preso de ouro e prata até a marca onde alcançasse sua mão estendida.

O império inca teria se mobilizado para levar a maior quantidade possível de ouro e prata a Cajamarca e libertar o soberano Atahualpa. Mas foi em vão. Pago o resgate, o inca foi levado à praça pública, batizado em rituais católicos e, em seguida, estrangulado por garrote a mando de Francisco Pizarro.

Mas, afinal, que quantidade de ouro teria sido paga como resgate? Difícil saber exatamente. Os números variam. O guia turístico Manuel Portal Cabellos, estudioso do tema e autor do livro "Oro y tragedias de los incas", disse que a quantia de ouro poderia ter chegado a algumas toneladas. 

O lugar onde Atahualpa ficou preso é chamado Cuarto del Rescate e é um dos locais mais conhecidos e visitados de Cajamarca. O quarto é também o vestígio mais significativo do império inca em Cajamarca, que teve todas as suas construções destruídas pelos conquistadores espanhóis. “Na minha opinião, é o quarto da extorsão e não do resgate”, afirmou o guia Manuel.

A morte de Atahualpa marca o começo do fim do Império inca. Há várias versões deste fato histórico. Captura, prisão, morte e funeral de Atahualpa constituem um capítulo muito rico, importante e sangrento da história do Peru.

O que visitar - Cajamarca é uma estância de águas termais. Foi lugar de descanso dos incas Pachacutec, Huayna Cápac e Atahualpa. O distrito Baños del Inca tem várias piscinas públicas e privadas.

Hotel & Spa Laguna Seca, onde ficamos hospedados, tem fontes de água termal e piscinas para adultos e crianças. Cada quarto tem uma banheira grande (poza), que pode ser enchida com água termal. 


Calçadão no centro de Cajamarca, próximo ao Complexo Belém
No centro histórico, chamam a atenção o Cuarto del Rescate construções coloniais, como a catedral, o Complexo Belém, igrejas e casarões. Do mirador de Santa Apolonia tem-se uma bonita vista da cidade.  

O departamento de Cajamarca é conhecido pela produção de minérios e de laticínios. Diria até que Cajamarca é a Minas Gerais do Peru. Queijos, iogurtes, doce de leite, biscoitos de manteiga são deliciosos. Não deixe de provar o queijo mantecoso. As lojas de laticínios da rua 2 de Mayo, perto da catedral, têm grande variedade de laticínios. No aeroporto também há quiosque de produtos lácteos.  

Sítios arqueológicos – Capital do departamento de mesmo nome, Cajamarca tem cerca de 280 mil habitantes e fica no norte do Peru, nos Andes, a 870 quilômetros de Lima e 2.750 metros acima do nível do mar. Na região se desenvolveu a cultura pré-incaica cajamarca, entre os anos 200 a.C. e 1.300 d.C. Os cajamarcas se destacaram na metalurgia, arte têxtil e cerâmica.

Complexo Arqueológico Cumbemayo

Nos arredores de Cajamarca, há importantes sítios arqueológicos. Visitamos dois deles, as Ventanillas de Otuzco (a 8 km do centro) e o Complexo Arqueológico Cumbemayo (a 20 km da praça central e a 3.500 metros de altitude).

Ventanillas de Otuzco: tumbas cavadas na rocha
As Ventanillas de Otuzco foram cemitério dos nobres cajamarcas. As tumbas ficavam em orifícios escavados em pedras de origem vulcânica. As sepulturas estão vazias. Foram saqueadas após o domínio dos cajamarcas pelos incas e depredadas ao longo dos anos.     

Em Cumbemayo, estão o bosque de pedras e os chamados frailones – rochas vulcânicas esculpidas pelo vento e chuva que se assemelham a um grupo de monges. Os antigos cajamarcas construíram em Cumbemayo um aqueduto, que abastecia a aldeia localizada onde é hoje a cidade de Cajamarca. O aqueduto é uma das obras de engenharia hidráulica mais importantes do período pré-colombiano.

Agências de turismo na Praça de Armas oferecem tours a vários sítios arqueológicos da região. Os passeios que fizemos foram demorados, sobretudo a Cumbemayo. O tour a Otuzco incluiu paradas em locais sem interesse turístico - por tal motivo, recomendo contratar táxi e guia particular para o passeio. Os hotéis geralmente podem indicar bons guias e motoristas.

Impressões - O Cuarto del Rescate e a história de Atahualpa foram o que mais me chamou a atenção em Cajamarca. Claro que os banhos em águas termais foram uma delícia, e as crianças gostaram. Eu tinha expectativa meio exagerada com as  Ventanillas de Otuzco e o bosque de pedra Cumbemayo. Imaginava as Ventanillas muito maiores do que na realidade são. Ao longo dos anos, o monumento sofreu com a ação de saqueadores, vândalos e falta de preservação.   

Quanto a Cumbemayo, esperava, no imenso bosque de pedras, submergir em atmosfera meio mágica (algo como em Machu Picchu). Não foi isso que aconteceu. As pedras não eram gigantescas como imaginava. O barulho das dezenas de turistas no local também tirou o encanto do lugar, principalmente na chegada. O guia Manuel nos disse que é necessário silêncio para contemplar e sentir a paisagem, ouvir o vento, o farfalhar das folhas. Concordo plenamente com ele.  

Frailones: rochas esculpidas pelo vento e chuva em Cumbemayo 

A planta ichu, típica dos altiplanos andinos, forra os caminhos de Cumbemayo

Aquedutos de Cumbemayo: importante obra pré-colombiana da cultura cajamarca

Petróglifos em rocha próxima aos aquedutos de Cumbemayo

Quarto do Resgate:Aqui foi preso o inca Atahualpa. Ele ofereceu em troca de sua
liberdade esta sala coberta de objetos de ouro, até onde chegasse a altura
 de seu braço, e outras duas (salas) cheias de prata.



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