segunda-feira, 31 de março de 2014

O COMPLICADO TRÂNSITO DE LIMA

Cartaz da campanha para redução de ruído no trânsito


O trânsito é um dos problemas das grandes cidades. E em Lima, não é diferente. A região de Lima cresceu muito nos últimos anos, atingindo os atuais 9 milhões de habitantes. O investimento em ampliação viária, planejamento urbano e educação no trânsito não acompanhou o aumento populacional. E uma das consequências do crescimento desordenado da cidade foi o trânsito caótico, o que realmente chama a atenção de quem vem à capital peruana.

São milhares de táxis (cerca de 120 mil), automóveis, vans de transporte coletivo (chamadas combis) e ônibus, todos disputando um lugar ao sol nas ruas congestionadas e mal sinalizadas. E mais, muito barulho de buzina, usada de forma quase instintiva pelos motoristas; carros fechando uns aos outros; livre conversão à esquerda na maioria dos cruzamentos; cobradores gritando, com o corpo fora dos veículos, seus itinerários. Aqui, em alguns trajetos há o chamado correteo – empresas concorrentes de transporte são autorizadas a fazer o mesmo percurso. Então, quem chega primeiro ao ponto de ônibus, leva o passageiro.

Mal tinha chegado à cidade, tive que enfrentar de perto o trânsito caótico. Lembro-me bem das primeiras vezes que fui levar meus filhos ao colégio - escolhido quando ainda estávamos em Bruxelas e não conhecíamos a dinâmica do trânsito limenho. A escola ficava numa via lateral à rodovia Panamericana  Sur, a cerca de 10 quilômetros de casa. Pelo Google Maps não era tão difícil chegar. Teoricamente usaria duas grandes avenidas.  

Mas não foi tão simples assim. A regra era sair cedo de casa com as crianças, entre 7h10 e 7h15, ou seja, mais de uma hora antes de a aula começar. Três ou quatro minutos de atraso na saída de casa, representaria ficar parado em um supercongestionamento na avenida Javier Prado e chegar atrasado ao colégio - as aulas começavam às 8h30.

Passada a movimentada avenida Javier Prado, era hora de entrar na Panamericana  Sur. O curto trecho na rodovia era uma aventura. Umas cinco pistas de tráfego pesado, com caminhões, carretas – todas do lado esquerdo da via, embora proibido – centenas de táxis, vans, ônibus, motos, carrinhos de banana (triciclo motorizado, transportando não só frutas, mas outras mercadorias). Se duvidar, tinha até gente querendo atravessar a rodovia e carro dando ré.

Quase todos os motoristas buzinando, fechando uns aos outros, ultrapassando pela esquerda e direita. Sem falar dos caminhoneiros que não faziam a menor cerimônia em usar a estrondosa buzina para os veículos pequenos (entre eles, eu) saírem da frente. Transposta a duras penas a Panamericana Sur, saíamos para a rua lateral à rodovia, até chegar ao colégio.

Hoje, dou boas risadas quando me lembro dos meus primeiros dias dirigindo em Lima. Já me acostumei. Felizmente, o trânsito está melhorando. Há uma série de projetos para reformar e melhorar o transporte público, sinalização e vias, regularizar os táxis e acabar com o correteo e as buzinadas desnecessárias. Também mudei as crianças para colégio mais perto de casa.

Apesar da bagunça, vi poucos acidentes e discussões no trânsito de Lima. De maneira geral, os motoristas são tolerantes, não insultam uns aos outros e até dão passagem quando um motorista está na terceira pista da direita e quer fazer a conversão à esquerda a poucos metros. Claro que o motorista vai ter que parar no meio da pista, atrapalhar todo o trânsito da via, escutar mil buzinadas, mas isso são outros quinhentos. É uma bagunça organizada, com “regras” particulares, que só entende quem dirige aqui.  



sexta-feira, 28 de março de 2014

LIMA E EU



Confesso que minha relação com Lima não foi de amor à primeira vista. Vim para morar, sem nunca antes ter estado aqui. Não me encantei na chegada, como ocorreu com Bruxelas, Montevidéu e Santiago, cidades no exterior onde já vivi. Tive um estranhamento com Lima, achei-a inóspita, barulhenta, grandemente desorganizada com seus 9 milhões de habitantes. Demorei a gostar. Aos poucos, o estranhamento foi-se transformando em simpatia, depois em carinho e, finalmente, diria até, em amor (?!).

As cores, aromas, sabores, a história e sobretudo sua gente, amável e atenciosa, foram-me cativando. Hoje, mais de um ano e meio depois de me mudar para cá, sinto-me adaptada à cidade e uma entusiasta de Lima e do Peru, um país cheio de encantos, de grande diversidade cultural e contrastes. Sinto até uma ponta de orgulho quando ouço brasileiros ou estrangeiros elogiando Lima ou o Peru.

Quando longe daqui, sinto saudade do ceviche, do clima ameno, da garoazinha, das pedaladas à beira-mar, e até, por que não dizer, das buzinadas e do trânsito confuso. Pois é, Lima é uma cidade para descobrir aos poucos, devagarinho, da maneira como se saboreia um ceviche picante.