terça-feira, 27 de maio de 2014

AREQUIPA, CIDADE BRANCA ENTRE VULCÕES

Catedral de Arequipa


Arequipa é conhecida como La Ciudad Blanca. Branca, pela pedra sillar, de origem vulcânica, que dá cor e forma a seu conjunto arquitetônico colonial. Poderia ser também La Ciudad de los Volcanes. São três os vulcões que contornam a cidade: o Pichu Pichu, o Chachani e o majestoso e ativo Misti. É terra natal do escritor Mario Vargas Llosa e dos pintores Teodoro e Alejandro Núñez Ureta.

Desde que cheguei ao Peru, sempre ouvi falar bem de Arequipa, de suas paisagens, das construções de sillar com fachadas minuciosamente esculpidas, do Vale do Colca e da saborosa cozinha regional. Gostei da cidade e a considero, depois de Cusco, um dos destinos de viagem mais bonitos do Peru.

Passamos três noites em Arequipa em meados de outubro de 2013, tempo suficiente para conhecer com calma os principais pontos turísticos e, principalmente, para andar meio sem rumo pela cidade, observando sua gente, admirando igrejas e prédios históricos, descobrindo algo novo em cada caminhada.

Depois de vários meses de céu nublado em Lima, a primeira sensação boa foi ver céu azul e sentir o sol queimar a pele. Situada no vale das montanhas desérticas da Cordilheira do Andes, a cerca de mil quilômetros ao sul de Lima, Arequipa é ensolarada e seca a maior parte do ano. Em meados de outubro, a temperatura pode variar até uns 10°C durante o dia, fazendo um calorzinho gostoso ao meio-dia e um friozinho à noite, na casa de 13 °C. Está localizada a 2.350 metros acima do nível do mar.

Vulcões ao redor da cidade

Prático é se hospedar perto da Praça de Armas. Bagagem acomodada no hotel, caminhamos em direção à praça. O cenário é bonito: o sol refletindo nas pedras brancas de sillar dos edifícios ao redor da praça, a catedral com suas altas torres e, ao fundo, os vulcões com os picos ainda nevados. Para completar, o movimento de centro de cidade na hora do almoço. Não há paisagem melhor para entusiasmar quem acaba de chegar.

Praça de Armas


Uma parada para o almoço. Os restaurantes da praça são bem turísticos e grande parte deles tem varanda no alto, com vista para a praça. Há boas opções de restaurante em Arequipa e nos agradou os pratos que comemos por lá.

A cozinha tradicional de Arequipa é uma das mais conhecidas no Peru. São famosos o rocoto relleno (tipo de pimentão vermelho picante, recheado com carne), o queso helado (sorvete cremoso de leite, coco e canela), o chupe de camarones (ensopado de camarões de rio e legumes), o solterito arequipeño (salada com queijo fresco, azeitonas, cebola e habas - um tipo de feijão verde).

Muito apreciado também é o cuy, considerado uma iguaria no Peru. Cuy é o porquinho-da-índia. Geralmente é servido inteiro, prensado, aberto, com a pele bem crocante. É o cuy chactado, como dizem os arequipenhos. Foi em Arequipa que provei o prato pela primeira vez, em uma picantería turística (restaurante típico). A carne é bem suave e macia, mas um pouco gordurosa.

Conhecendo Arequipa – Um passeio por Arequipa deve começar pela Praça de Armas, onde fica a imponente catedral construída de pedra sillar. A catedral é símbolo de Arequipa com suas altas torres renascentistas. Vale a pena uma visita guiada ao interior e ao museu da catedral.

Catedral à noite

Imprescindível ir ao Monastério de Santa Catalina, o monumento mais visitado da cidade. Inaugurado em 1580, o convento ocupa uma área 20 mil metros quadrados e possui uma distribuição parecida com a dos primeiros bairros de Arequipa, com ruelas, jardins, pátios coloridos, cemitério e os aposentos das monjas, alguns com mobiliário da época, além de uma pinacoteca. A visita guiada dura em torno de uma hora e, depois, o visitante pode circular livremente pelo convento.

Um dos pátios do Mosteiro de Santa Catalina

Mosteiro de Santa Catalina

Outros lugares imperdíveis são: Complexo e Igreja da Companhia de Jesus, Complexo e Igreja de São Francisco, Convento de Santa Teresa, bairro San Lázaro.

Complexo de São Francisco

Múmia Juanita - Interessante também uma visita ao Museu Santuários Andinos que exibe a Múmia Juanita - o corpo congelado de uma adolescente inca sacrificada em ritual de oferenda aos deuses, há cerca de 500 anos. A múmia foi encontrada em 1995 no topo do vulcão Ampato (a 6.312 metros), a temperatura de 20 ° C negativos.

Juanita é considerada a múmia mais bem preservada encontrada em território do império inca. O corpo não passou por processo de embalsamento e a baixa temperatura das montanhas tratou de conservá-lo intacto. A múmia é conservada em um congelador de vidro e exposta no museu de maio a dezembro. De janeiro a abril, passa por um período de preservação.  O museu exibe também utensílios usados durante o sacrifício da menina inca.

Arredores de Arequipa - A cerca de 10 quilômetros ao sul de Arequipa está o Moinho de Sabandia. Ônibus turísticos que saem da Praça de Armas fazem vários tipos de passeios, entre eles, o circuito turístico conhecido por Campiña Tour que inclui a visita ao moinho, à Mansão do Fundador e outros pontos turísticos.

Igreja de Yanahuara
Outra opção, a que preferimos, é fazer o passeio de táxi. Os hotéis geralmente trabalham com motoristas que fazem o tour. Para quem está com criança, é mais prático e personalizado. Compramos um passeio de 4 horas até Sabandia com as seguintes paradas: Mirador de Yanahuara, Mirador de Carmen Alto (Vale de Chilina), Outlet Incalpaca, Distrito de Sachaca, Mansão do Fundador e Moinhos de Sabandia.  


Mansão do  Fundador

Moinhos de Sabandia
Plantações no vale de Arequipa

Há agências de viagem que fazem passeio de um dia ao Vale do Colca (a cerca de 3 mil metros acima do nível do mar). A viagem dura em média 4 horas para percorrer 160 quilômetros. Não fomos lá. O Vale do Colca, seus cânions e povoados merecem uma outra viagem, com mais calma, às alturas andinas.

Cafés e restaurantes em calçadão próximo à catedral

Cerveja comemorativa aos 473 anos de Arequipa


segunda-feira, 12 de maio de 2014

O QUE É MISTURA?

Mistura é a grande feira gastronômica do Peru, considerada uma das mais importantes das Américas. É a festa de celebração da culinária peruana, em sua diversidade de sabores, ingredientes e tradições. Reúne de chefes famosos a pequenos agricultores e atrai milhares de pessoas – em 2013 foram cerca de 350 mil visitantes.



O festival gastronômico ocorre na primeira quinzena de setembro. Ano passado, em sua sexta edição, a feira foi realizada em frente ao mar, no bairro Magdalena del Mar. São centenas de barracas com comidas típicas, representando as várias regiões do Peru. Há ainda palestras de chefes renomados, que mostram técnicas e tendências da gastronomia. Em 2013, participaram da Mistura os chefs brasileiros Alex Atala e Thiago Castaño (Belém do Pará), o chef francês Alain Ducasse, o chocolateiro belga Dominique Persoone (de Bruges) e muitos outros.

A feira é dividida por especialidades, chamadas “mundos”. Os mundos foram dedicados aos pães, chocolate, quinoa, café, ceviche, sanduíches, bebidas, brasas (churrasco), anticuchos (espetinhos), à culinária oriental, à cozinha de Lima e das regiões norte, sul, da Amazônia e dos Andes peruanos, além do Gran Mercado.

Mundo dos Pães

Visitando a Mistura- Fui à Mistura em 2012 e 2013. A feira é grande, não dá para ver nem provar tudo em um só dia. Ano passado, fui pela manhã porque o movimento é menor. A feira abria às 11 horas. Chego por volta das 11h30 e os pavilhões já estão cheios e as filas começam a se formar diante dos quiosques. É incrível observar o caráter popular da festa – são jovens, adultos, famílias inteiras, ricos e pobres. O reconhecimento da Mistura como um dos grandes eventos gastronômicos mundiais é motivo de muito orgulho para os peruanos. 

Variados tipos de quinoa produzidos no Peru

Chegando à feira, vou direto ao Gran Mercado, ao qual dedico a maior parte do tempo. O Gran Mercado é um pavilhão com cerca de 500 expositores. É uma espécie de mosaico dos produtos agrícolas e artesanais da costa, serra e selva peruanos. Gosto de conversar com os produtores, degustar novos produtos, apreciar o que trazem de bom para a feira.

Passeando pelos vários estandes do mercado, chama a atenção as frutas da Amazônia, o licor de coca, o café de quinoa - tostado como o café. Tem cheirinho de café, sinta, diz a vendedora.

De maneira alegre e simpática, os expositores convidam o visitante a provar e conhecer seu produto. Experimento chocolates, biscoitos, pães, azeitonas, queijos, frutas e vários sabores de King Kong, doce típico peruano da região de Lambayeque.

As bancas de batata são um atrativo. São centenas de tipos de batatas nativas, de várias cores, formatos, tamanhos e sabores. 

Descascar esta batata não deve ser nada fácil 


Uma agricultora de Huánuco, dona Clementina, oferece-me uns pedacinhos de batata jilguerito, cozida. Muito saborosa. Não resisto e levo um quilo da batata andina, que guardo em uma mochila que levei para as comprinhas. As batatas me acompanham no restante da feira, pesando cada vez mais. 


Produtores de batata de Huánuco, na serra peruana


Mais uma volta em outros pavilhões, já está quase na hora do almoço e as filas estão aumentando diante das barracas de comidas. Vejo o estande de um restaurante oriental conhecido, quase vazio ainda. Escolho uns makis acevichados.

Circulo mais um pouco, vejo o Mundo Sureño Arequipeño, com seus deliciosos rocotos rellenos de Arequipa, o concorrido Mundo das Brasas e seus cordeiros e leitões assados em fogo de chão. São tantas as opções, difícil é escolher. Mas minha opção é pela comida amazônica do Àmaz – filé de pirarucu com caju, cogumelos frescos, acompanhado de arroz com coco (por 13 soles a porção - cerca de 10 reais). De sobremesa, um sorvete de aguaje, em outro quiosque da Amazônia.

No final do passeio, paro estrategicamente no Mundo do Chocolate, para mais uma sobremesa.  Ah, quantas delícias! Em setembro tem mais Mistura.