segunda-feira, 9 de março de 2015

ÚLTIMO POST: DE VOLTA AO BRASIL


Caros leitores,

Estou de volta ao Brasil. E, por isso, me despeço do blog VIVER EM LIMA, ao qual me dediquei com muito carinho. Foi uma satisfação compartilhar algumas das minhas impressões sobre Lima e o Peru, país que me acolheu tão bem nos três anos lá vividos. Foi um ano de blog. Pouco tempo, porém intenso. 

Meus agradecimentos aos queridos leitores, amigos, familiares, meus filhos e marido, que apoiaram e acompanharam o VIVER EM LIMA. Foi uma experiência enriquecedora fazer o blog, interagir com os leitores, buscar novos ângulos para aspectos pitorescos e importantes de Lima e do Peru.

Sentirei saudade.

Nos vemos por aí.

Ana Cristina Pereira 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

PRA QUEM VEM MORAR AQUI

Paisagem à beira-mar, em Miraflores (Lima)


Algumas dicas úteis para quem vem morar em Lima:

Onde morar – a maioria dos centros empresariais, escritórios de empresas e embaixadas se concentra em Miraflores e San Isidro, bairros seguros e com ótima infraestrutura. Portanto, morar perto do trabalho é boa opção, levando em conta o tempo de deslocamento e o tamanho da cidade. Lima é uma cidade grande, com cerca de 9 milhões de habitantes, e tem trânsito lento e complicado. (Já fiz um post sobre o trânsito de Lima; clique aqui para ver). 

Há outros bairros bons, próximos ou distantes de Miraflores e San Isidro. Tudo vai depender da necessidade de cada um. 


Escola – Se você vai morar pouco tempo em Lima, pense se não é boa ideia matricular seu filho em uma escola próxima à sua casa. Você vai economizar tempo de deslocamento, além de poupar a criança de acordar muito cedo ou passar longo tempo no caminho entre a casa e a escola. Crianças pequenas sentem mais, ficam cansadas e reclamam de passar muito tempo no carro.  

O Liceu Francês e escolas internacionais estão em bairros longe de Miraflores e San Isidro, como Surco, Chacarilla e La Molina. Se optou por estes bairros para morar, não haverá problema para as crianças, mas você poderá ficar longe de seu trabalho (se for em Miraflores ou San Isidro) e terá de enfrentar longos períodos no trânsito. Se conseguiu conciliar distância do trabalho com colégio dos filhos, ótimo. É a melhor a opção.

Material escolar – Tai Loy, Ripley, Falabella, supermercados Wong. Livros didáticos nas livrarias do Óvalo Gutierrez (Crisol, principalmente), em Miraflores. A Pharmax também vende livros didáticos, material escolar e de escritório.

Comércio – Depois que arrumou casa e escola para os filhos, é hora de ver o comércio por perto. Não se preocupe, Lima tem ótimas opções de supermercados, mercados municipais, lojas, cafés, livrarias, cinemas, teatros, bares, shoppings, sem falar dos restaurantes.

Táxis e motoristas – Lima possui numerosa frota de táxi. Já ouvi falar em quantidades que variam de 120 mil a 300 mil táxis circulando pela cidade. Então, não é por falta de táxi que você vai deixar de andar pela cidade. 

Se você ainda está sem carro ou falta coragem para encarar o trânsito de Lima, uma solução é contratar um motorista para te ajudar a levar as crianças na escola, por exemplo. Esse tipo de serviço não é caro. 


Bicicleta - Lima não é propriamente uma cidade bike friendly, mas dá para se locomover bem de bicicleta em alguns bairros. Sempre com cuidado, porque os motoristas não respeitam muito os ciclistas. Há poucas ciclovias, mas não há problema em andar na calçada, uma vez que o tráfego de bicicletas não é grande.

Geografia e clima da cidade estão a favor dos ciclistas. Lima é plana. Quase não chove na cidade, a temperatura é amena e o céu fica nublado praticamente cinco meses por ano. (Veja post sobre clima aqui no blog).

Os distritos San Borja e Miraflores têm um sistema de aluguel de bicicleta bem organizado. 


PASSEIOS

Depois que já estiver bem instalado em Lima, se sentindo mais à vontade com a cidade, é hora de fazer o primeiro passeio. Pensou em Machu Picchu? Ótimo. Sugiro, porém, que comece por Paracas, onde está a Reserva Nacional de mesmo nome. É perto de Lima (250 km ao sul), dá para ir de carro e a estrada é boa. A reserva e a baía de Paracas são muito bonitas, há vários tipos de passeios para fazer e bons hotéis.

No blog há posts de alguns passeios que fizemos no Peru, como Arequipa, Ayacucho, Cajamarca, Vichayito (praia), Paracas, Chincha, Lunahuaná.

Machu Picchu

Cusco e Machu Picchu – Blogs especializados, como o Viaje na Viagem, e agências de turismo têm mil informações e dicas sobre o lugar. Importante: para chegar a Machu Picchu é preciso comprar as entradas de trem de Cusco a Águas Calientes, tíquetes de ônibus para subir a Machu Picchu, entradas para o santuário, além de contratar guia turístico profissional (opcional).

TECIDOS E CONFECÇÕES
Gamarra - É um grande centro comercial e industrial de tecidos. Acredito que seja um dos maiores da América do Sul, englobando uma área de cerca de 40 quarteirões.  Gamarra é um mundo dentro de Lima. Fica no distrito de La Victoria. Possui milhares de lojas que vendem no atacado e varejo.

A variedade é muito grande e os preços, baixos. Como o local é imenso e labiríntico, sugiro que vá de táxi, acompanhado por alguém que conheça muito bem o lugar, para economizar tempo, dinheiro e encontrar os melhores produtos. Eu fui com uma costureira, freguesa do Gamarra há mais de 20 anos, e fiz boas compras. 


Corredor de lojas de um prédio em Gamarra


Alfaiate - Vale a pena fazer ao menos um terno sob medida com tecido fabricado no Peru, como o da marca Barrington. Na avenida Alfredo Benavides (quadra 3), perto da Ripley de Miraflores, há várias lojas de tecidos e alfaiates que fazem ternos e camisas sob medida.

Centro Comercial Polvos Azules  - camisas, camisa polo, camisetas, roupas esportivas, tênis, produtos eletrônicos a preços baixos. (Clique aqui para ver post do blog sobre o local).

Tecidos para sofás e cadeiras – Na quadra 6 da avenida Iquitos, no distrito de La Victoria, há várias lojas de tecidos para decoração, uma ao lado da outra, com bons preços. Se for de carro à rua Iquitos, é prático parar no estacionamento da MultiTop – uma loja grande de carpetes, tecidos, espumas, borrachas. Na Iquitos, gosto da loja A Detalle, que tem tecidos de boa qualidade, cores e estampas.

A Romantex, em San Isidro, tem grande variedade de tecidos para decoração. São importados, exclusivos e mais caros (preço em dólar). 

Academia de ginástica – Alguns bairros possuem ginásios municipais de esporte com academia de ginástica, aulas de dança, pilates, aluguel de quadras de futebol e tênis a preços mais baixos. Na quadra 13 da Avenida do Exército, estão o Complexo Desportivo San Isidro e o Estádio Municipal Manuel Bonilha. Para se inscrever nesses clubes é necessário ser morador do distrito e apresentar, entre outros requisitos, comprovante de endereço.

Há uma ótima aula de pilates de solo, que frequentei durante dois anos, com o professor Marco Palma, na academia Gimnasio Fitness San Isidro (Victor Maúrtua, 150). O professor também da aulas na academia Sport Life, em Miraflores. 

Clubes – Alguns clubes de Lima oferecem aos estrangeiros a possibilidade se associar como sócio temporário. É uma boa opção para quem vai ficar por tempo determinado na cidade. Alguns clubes têm, além da estrutura em Lima, sedes de praia, campo e montanha.

Centro Cultural da PUC Peru  – tem cinema, teatro, exposições, palestras, cursos de idiomas. A programação de cinema é ótima, além das mostras e festivais, como o de cinema brasileiro e francês. Os ingressos são mais baratos que os de cinemas comerciais.

Oficinas de arte - A escola Corriente Alterna oferece para crianças, adolescentes e adultos cursos de desenho, fotografia, escultura, cerâmica e serigrafia, com duração de 4 a 8 semanas. Museus como o Mali e o MAC também têm cursos e oficinas para adultos e crianças.

Mercados municipais: San Isidro, Santa Cruz (Miraflores) e Surquillo. Frequentei mais o mercado Santa Cruz. Veja no blog o post sobre ingredientes peruanos.

Produtos orgânicos e restaurantes vegetarianos: feira orgânica do Parque Reducto, Punto Orgánico, El Pan de la Chola, restaurantes Veggie Pizza, Alma Zen, Raw Café (vegano) e Todo Light (lanches).

Bolos, tortas e salgados – Gosto muito da confeitaria Dolce Capriccio. O bolo de chocolate é uma delícia e uma boa opção para aniversário de criança. A Dolce Capriccio e a La Baguette têm boas opções de salgados para festas ou para uma reunião em casa.

Massas para levar para casa – El Pastificio (uma sugestão é a lasanha de alcachofra) e La Parmesana (gosto do nhoque de batata amarela).

Restaurantes  - A culinária peruana está na moda e realmente é muito variada, criativa e saborosa. Há os restaurantes premiados e badalados, os restaurantes tradicionais, os restaurantes de ambiente familiar, simples e mais populares, chamados de huariques

Nestes três anos em Lima, provei pratos deliciosos em restaurantes caros e baratos, badalados ou pouco conhecidos. Morando em Lima e experimentando a comida de vários lugares, você vai descobrir seus preferidos. 

Aqui no blog, há algumas sugestões de restaurantes no item Comidas do post Dicas de Lima.

Livros - Considero dois livros importantes para quem quer conhecer Lima pela literatura: Un mundo para Julius, de Alfredo Bryce Echenique, e Tía Julia y el Escribidor, de Mario Vargas Llosa. Sobre cultura andina um livro essencial é Los Ríos Profundos, de José María Arguedas.

Sobre arte e cultura, uma sugestão é a antologia de textos Miradas Furtivas, de Fernando de Szyszlo. (No blog há uma entrevista que fiz com o pintor; clique aqui para ver).

Livrarias  – Ao redor do Parque Kennedy e do Óvalo Gutierrez há várias livrarias. No shopping Larcomar está a Ibero Librerías, uma das maiores de Lima. Há a Crisol, El Virrey, livrarias Fondo de Cultura Económica e muitas outras.

Sebos - ruas Quilca e Amazonas, no centro de Lima.

Instrumentos musicais - Rua Cantuaria e avenida Alfredo Benavides (quadra 3), as duas em Miraflores.

Joias e objetos de prata – Lojas Ilaria, mercados de artesanato de Miraflores, Dédalo.

Outros bairros – as dicas acabaram se concentrando nos distritos de San Isidro e Miraflores, locais onde morei e circulei mais. Lima tem, logicamente, mais a oferecer em outros bairros. Explore o centro histórico, a vida noturna do Barranco, circule por Chorrillos, com um passeio ao Morro Solar e um almoço no restaurante da Sonia (um huarique).

No distrito de Pueblo Libre, não deixe de visitar dois dos museus mais importantes do Peru: o Museu Nacional de Arqueologia, Antropologia e História do Peru e o Museu Larco. Imperdível a Sala Paracas do Museu de Arqueologia. Depois da visita, vale uma pausa na Antigua Taberna Queirolo.

Curta e aproveite Lima!


Réplica de uma construção de Kuélap, da cultura Chachapoyas, no Museu de Arqueologia 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

OS GATOS DA PRAÇA KENNEDY




Os gatinhos da Praça Kennedy, em Lima, passeiam felizes.
São manhosos, mimados e preguiçosos.
Brancos, pretos, amarelos, malhados. Dezenas deles. 

Param aqui e ali. 
Não são ariscos. Ao contrário, tranquilos. 
Aceitam afago, atenção e comida.

Os gatos também alegram as pessoas que passam.
Crianças, casais de namorados, adultos, velhinhos e turistas. 
Posam até para fotos!

De repente, uma tensão. 
Querem tirar os gatos da Praça Kennedy: prefeitura, saúde pública, alguns moradores. 

Solução à vista.  
Uma placa avisa: adoção

Enquanto não se resolve a questão, os gatinhos continuam na praça. 
Manhosos, preguiçosos e despreocupados, em busca do aconchego de um estranho ou, quem sabe, de seu futuro dono. 

Miau!




segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

UM LUGAR PARA COMPRAR BARATO EM LIMA


Corredor da seção de roupas dos Polvos Azules

Uma leitora do blog, com viagem marcada para Lima, me perguntou se valia a pena uma visita aos Polvos Azules. Sim, vale a pena. O centro comercial é uma boa opção para quem quer comprar barato, principalmente, camisas e camisetas de marcas famosas. Os Polvos Azules ficam no distrito de La Victoria, em Lima, não muito longe do centro histórico.


Para se ter uma ideia dos preços, uma camisa Dudalina feminina de algodão custa em torno de 65 soles (cerca de 55 reais). Uma camisa polo masculina com a marca Lacoste sai por 45 soles (38 soles). Uma camisa social da mesma marca custa cerca de 60 soles (50 reais).  Na época do Natal, com cerca de 300 reais é possível comprar presente para toda a família. Nos Polvos Azules, o dinheiro rende.

Os preços podem ser ainda mais baixos, dependendo da quantidade que o cliente comprar. Por isso, sempre vale a pena pechinchar. Pelos corredores dos Polvos Azules, é fácil encontrar brasileiros e estrangeiros de várias nacionalidades, escolhendo roupas para levar de presente ou revender em seu país. 

Camisetas de várias marcas

Não vou entrar no mérito da autenticidade dos produtos. Certo é que, na seção de roupas, há camisas e camisetas de boa qualidade. Muitas marcas, como as citadas no início do texto, têm fornecedores no Peru. O país produz algodão de boa qualidade e há mão-de-obra especializada abundante na área de confecção.

Já conversei com vários vendedores do centro comercial e alguns me disseram que os produtos vêm de confecções que fabricam para grandes marcas e exportam. Outros assumem que é cópia mesmo, “mas com bom tecido e acabamento”, garantem. Outra comerciante, que não trabalha mais no local, disse-me que teve problema com a fiscalização.

Movimento – Ao turista interessado em visitar o centro comercial, recomendo que vá de manhã, por volta das 10 horas. Há menos movimento e os vendedores atendem com mais calma. À tarde, principalmente no sábado, o local fica lotado, quente. Impraticável. As melhores lojas no setor de roupas estão nas pasajes de 8 a 12.

Nos Polvos Azules também há calçados, eletrônicos, malas, produtos de decoração, roupa infantil e esportiva e praça de alimentação. Sempre bom pedir o cartão da loja onde você viu algo interessante para poder voltar depois. É que são vários corredores estreitos, com centenas de lojas quase iguais, uma ao lado da outra.

Centro comercial vende também calçados


Camisas femininas de algodão

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A TRADIÇÃO DOS TAMALES NAS RUAS DE LIMA


Dona Maritza Guevara vende tamales há 31 anos  

Uma voz alta e forte ecoa todas as manhãs de sábado e domingo em San Isidro. É dona Maritza Guevara anunciando os seus tamales. “TAMAAALEEES. TAMALES CALIEEENTES. TAMALES CALIENTES DE CHANCHO Y DE POLLO” *. E das casas e edifícios, saem os fregueses para comprar os tamales para o café da manhã ou almoço domingueiro, como é consumido tradicionalmente no Peru.

O tamal é parecido com a pamonha, só que enrolado em folha de bananeira. É feito à base de milho moído, com vários condimentos, e recheado de carne de frango ou porco. É um prato bem popular no Peru e faz parte do cardápio de todo restaurante de comida peruana. Geralmente é acompanhado de salada crioula (cebola, temperada com limão, coentro e pimentas peruanas, os ajíes).

Os vendedores ambulantes de tamales, chamados tamaleros, são uma tradição em Lima desde a época colonial. Vendedores de tamales, humitas (outro tipo de pamonha, doce ou salgada) e revolución caliente (rosquinhas de manteiga) cantavam, faziam versos e até mesmo dançavam para chamar a atenção para o seu quitute. A chegada do vendedor era esperada, nas manhãs de domingo, pela freguesia que se aglomerava a sua volta.

No Peru, o tamal é consumido tradicionalmente no café da manhã
Pela dinâmica das cidades, nos dias de hoje, os vendedores, que “gritavam ou cantavam” seus produtos nas ruas de Lima, já não atraem grupo numeroso de fregueses e curiosos ao seu redor, como outrora. Dona Maritza toca a campainha das casas dos fregueses fiéis; outros, como eu, abrem o portão, compram os tamales e puxam conversa com a vendedora. Porteiros de prédios também saem à rua para buscar os tamales encomendados pelos moradores. 

Os tempos podem ter mudado, mas a voz alta e potente da vendedora, anunciando os saborosos tamales, ainda provoca alvoroço em casa. “Mãe, olha lá os tamales. Você não vai comprar?”, diz um dos meus filhos. Meu outro filho imita a vendedora e também grita pela casa: “TAMAAALES, TAMALES CALIEEEENTES”. Sentimos falta quando a tamalera não passa no horário costumeiro. “O que será que aconteceu? A senhora dos tamales ainda não passou?!”. 

Temperos - Há 31 anos dona Maritza vende tamales. Aprendeu a receita ainda menina, com os pais, na cidade de Chincha, 200 km ao sul de Lima. O segredo de um bom tamal, conta ela, está nos temperos. Bastante alho natural amassado, gergelim e amendoim tostados e ají amarillo (pimenta suave amarela, típica do Peru). “Invisto nos ingredientes e, por isso, vendo cada tamal por 5 soles (R$ 4,30). Gergelim, amendoim e até mesmo o alho estão caros”, afirma. “Há pessoas que não investem e até acrescentam nabo para fazer a massa render”.

Dona Maritza madruga para preparar os tamales e trazê-los quentinhos a San Isidro, Miraflores e Magdalena. Vende cerca de 50 tamales a cada sábado e domingo. “Caminho toda a manhã, e antes do meio-dia já não tem mais tamales. É um longo caminho, mas eu o vejo curto porque tenho anos fazendo isso”, diz a tamalera, satisfeita e sorridente.

A vendedora de tamales em rua de San Isidro

* Tamales. tamales quentes. Tamales quentes de porco e de frango.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

10 COISAS QUE ACONTECEM NO TRÂNSITO DE LIMA

1. Os motoristas buzinam muito. Buzinam atrás de seu carro, mesmo quando o sinal está vermelho e há vários veículos parados na sua frente. 

2. Entrar numa rotatória é algo nonsense. Se você aprendeu na autoescola que quem está na rotatória tem a preferência, esqueça. Todos entram ao mesmo tempo, junto e misturado. Quem está na pista interna da rotunda vai parar, fechar todo mundo, buzinar para entrar na próxima saída à direita. Ônibus e vans de transporte público ingressam na rotatória em alta velocidade, e saia da frente quem puder.

3. Direção defensiva aqui é assim: o motorista que está na sua frente ou ao lado vai fazer barbeiragem. Esteja preparado para ser fechado a qualquer momento e para fechar alguém também.

4. Esqueça também a regra de preferência para quem vem da direita. Aqui não vale. Passa quem pode mais, é mais ousado, buzina mais, tem o carro maior ou mais batido.

5. Onde há três faixas, cabem perfeitamente cinco filas de carro. Nessa situação, cuide de seu espelho retrovisor. Ele pode ter sido fechado por outro veículo e você só se dará conta quando precisar dele no próximo cruzamento confuso.

6. Quando você sai de ré da garagem de casa não espere que outros motoristas deem passagem, em atitude gentil. Eles vão buzinar, correr para passar primeiro que você e, o mais surpreendente, passar no pequeno espaço atrás do seu carro, enquanto você dá marcha a ré.

7. Braço fora do carro para sinalizar. Taxistas e motoristas de van, principalmente, não usam a seta, mas colocam o braço fora do carro, indicando a direção em que vão virar. 

8. Não estranhe se estacionar em frente a uma casa e o segurança pedir para você sair. Alguns proprietários acham que o espaço em frente à sua casa serve somente para eles, seus familiares e amigos. Melhor não discutir...

9. Faixa de pedestre não vale muita coisa. Alguns carros param; outros, não. Pedestre também atravessa fora da faixa.

10. Apesar da bagunça, há poucas discussões e brigas no trânsito. Essa é uma grande vantagem. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O TRISTE FIM DE ATAHUALPA EM CAJAMARCA


Cuarto del Rescate, onde o inca Atahualpa esteve preso no século XVI


O guia turístico que nos acompanha no passeio a Cajamarca aponta para a Praça de Armas da cidade e faz uma afirmação categórica.“Aqui ocorreu uma grande tragédia: a execução do inca Atahualpa, em 1533, depois de pagar alto resgate em ouro e prata aos invasores espanhóis”. Contam crônicas da época que Atahualpa, mantido prisioneiro por Francisco Pizarro durante meses, ofereceu em troca de sua liberdade encher o quarto onde estava preso de ouro e prata até a marca onde alcançasse sua mão estendida.

O império inca teria se mobilizado para levar a maior quantidade possível de ouro e prata a Cajamarca e libertar o soberano Atahualpa. Mas foi em vão. Pago o resgate, o inca foi levado à praça pública, batizado em rituais católicos e, em seguida, estrangulado por garrote a mando de Francisco Pizarro.

Mas, afinal, que quantidade de ouro teria sido paga como resgate? Difícil saber exatamente. Os números variam. O guia turístico Manuel Portal Cabellos, estudioso do tema e autor do livro "Oro y tragedias de los incas", disse que a quantidade de ouro poderia ter chegado a algumas toneladas. 

O lugar onde Atahualpa ficou preso é chamado Cuarto del Rescate e é um dos locais mais conhecidos e visitados de Cajamarca. O quarto é também o vestígio mais significativo do império inca em Cajamarca, que teve todas as suas construções destruídas pelos conquistadores espanhóis. “Na minha opinião, é o quarto da extorsão e não do resgate”, afirmou o guia Manuel.

A morte de Atahualpa marca o começo do fim do Império inca. Há várias versões deste fato histórico. Captura, prisão, morte e funeral de Atahualpa constituem um capítulo muito rico, importante e sangrento da história do Peru.

O que visitar - Cajamarca é uma estância de águas termais. Foi lugar de descanso dos incas Pachacutec, Huayna Cápac e Atahualpa. O distrito Baños del Inca tem várias piscinas públicas e privadas.

O Hotel & Spa Laguna Seca, onde ficamos hospedados, tem fontes de água termal e piscinas para adultos e crianças. Cada quarto tem uma banheira grande (poza), que pode ser enchida com água termal. 


Calçadão no centro de Cajamarca, próximo ao Complexo Belém
No centro histórico, chamam a atenção o Cuarto del Rescate e construções coloniais, como a catedral, o Complexo Belém, igrejas e casarões. Do mirador de Santa Apolonia tem-se uma bonita vista da cidade.  

O departamento de Cajamarca é conhecido pela produção de minérios e de laticínios. Diria até que Cajamarca é a Minas Gerais do Peru. Queijos, iogurtes, doce de leite, biscoitos de manteiga são deliciosos. Não deixe de provar o queijo mantecoso. As lojas de laticínios da rua 2 de Mayo, perto da catedral, têm grande variedade de laticínios. No aeroporto também há quiosque de produtos lácteos.  

Sítios arqueológicos – Capital do departamento de mesmo nome, Cajamarca tem cerca de 280 mil habitantes e fica no norte do Peru, nos Andes, a 870 quilômetros de Lima e 2.750 metros acima do nível do mar. Na região se desenvolveu a cultura pré-incaica cajamarca, entre os anos 200 a.C. e 1.300 d.C. Os cajamarcas se destacaram na metalurgia, arte têxtil e cerâmica.

Complexo Arqueológico Cumbemayo

Nos arredores de Cajamarca, há importantes sítios arqueológicos. Visitamos dois deles, as Ventanillas de Otuzco (a 8 km do centro) e o Complexo Arqueológico Cumbemayo (a 20 km da praça central e a 3.500 metros de altitude).

Ventanillas de Otuzco: tumbas cavadas na rocha
As Ventanillas de Otuzco foram cemitério dos nobres cajamarcas. As tumbas ficavam em orifícios escavados em pedras de origem vulcânica. As sepulturas estão vazias. Foram saqueadas após o domínio dos cajamarcas pelos incas e depredadas ao longo dos anos.     

Em Cumbemayo, estão o bosque de pedras e os chamados frailones – rochas vulcânicas esculpidas pelo vento e chuva que se assemelham a um grupo de monges. Os antigos cajamarcas construíram em Cumbemayo um aqueduto, que abastecia a aldeia localizada onde é hoje a cidade de Cajamarca. O aqueduto é uma das obras de engenharia hidráulica mais importantes do período pré-colombiano.

Agências de turismo na Praça de Armas oferecem tours a vários sítios arqueológicos da região. Os passeios que fizemos foram demorados, sobretudo a Cumbemayo. O tour a Otuzco incluiu paradas em locais sem interesse turístico - por tal motivo, recomendo contratar táxi e guia particular para o passeio. Os hotéis geralmente podem indicar bons guias e motoristas.

Impressões - O Cuarto del Rescate e a história de Atahualpa foram o que mais me chamou a atenção em Cajamarca. Claro que os banhos em águas termais foram uma delícia, e as crianças gostaram. Eu tinha expectativa meio exagerada com as  Ventanillas de Otuzco e o bosque de pedra Cumbemayo. Imaginava as Ventanillas muito maiores do que na realidade são. Ao longo dos anos, o monumento sofreu com a ação de saqueadores, vândalos e falta de preservação.   

Quanto a Cumbemayo, esperava, no imenso bosque de pedras, submergir em atmosfera meio mágica (algo como em Machu Picchu). Não foi isso que aconteceu. As pedras não eram gigantescas como imaginava. O barulho das dezenas de turistas no local também tirou o encanto do lugar, principalmente na chegada. O guia Manuel nos disse que é necessário silêncio para contemplar e sentir a paisagem, ouvir o vento, o farfalhar das folhas. Concordo plenamente com ele.  


Frailones: rochas esculpidas pelo vento e chuva em Cumbemayo 


A planta ichu, típica dos altiplanos andinos, forra os caminhos de Cumbemayo

Aquedutos de Cumbemayo: importante obra pré-colombiana da cultura cajamarca

Petróglifos em rocha próxima aos aquedutos de Cumbemayo

Quarto do Resgate:Aqui foi preso o inca Atahualpa. Ele ofereceu em troca de sua
liberdade esta sala coberta de objetos de ouro, até onde chegasse a altura
 de seu braço, e outras duas (salas) cheias de prata.